Breve Análise do Minimalismo do Século XX: Mussolini e os “trens que chegavam no horário”

FOTO:  Mussolini, sem camisa, discursando em uma festividade popular. Os déspotas psicopatas do século XX sempre tiveram uma queda para o excêntrico e a teatralidade.

Por Artur Eduardo

Diz uma minoria saudosa do fascismo italiano que “ao menos, na época de Mussolini, os trens chegavam no horário”. Com isto, uma juventude relativamente pequena na Itália atual tenta rememorar, com um saudosismo estranho, uma época recente e tenebrosa na tumultuada história da península itálica: os dias de Mussolini. Mas, quem foi este, que era chamado de Il Duce, ou  O Líder? Benito Mussolini (1883-1945) é talvez um dos melhores exemplos no século XX de como um homem pode ser levado pelas circunstâncias a modificar sua sociedade de tal forma que a mesma acabe desfigurada, arruinada, destruída por ações erradas e egolatria individuais, ou o exemplo de um dos “homens de massa” – e isso foi uma constante no século XX -, que chegaram ao poder e, uma vez ali, foram tomados pela megalomania que faria corar de vergonha os mais extravagantes reis do período clássico europeu.

Mussolini cresce em uma Itália agitada politicamente, que, como no restante da Europa, via muitas vezes no misticismo, no nacionalismo e em revoluções, as respostas para suas angústias e crises espirituais e existenciais. Ascendendo meteoricamente no vácuo deixado pelo caos político italiano do início da primeira metade do século XX, Mussolini sempre foi um socialista. Sua ruptura com os socialistas italianos se deu, ao que tudo indica, por questões relativas à Primeira Guerra Mundial, ocasião na qual ele deixou de ser o redator-chefe de um grande jornal socialista, o Avanti!, para trabalhar em outro, o Popolo d´Itália, no qual fez duras críticas aos seus antigos aliados. Contudo, as questões da divisão foram mais circunstanciais do que ideológicas e eram relativas à intervenção italiana na guerra. Mussolini cria e assumia uma espécie de social-nacionalismo à la Itália, um pouco diferente do nazismo alemão, o fascismo, mas centrado no conceito fortemente socialista da “luta do proletariado”, que, à época do ditador, havia pendido para uma “luta da classe trabalhadora”. Por toda a vida Mussolini manteve uma postura de líder revolucionário.

Com a influência, experiência e contatos devidos para organizar uma milícia própria, os Camisas Negras, Mussolini os orienta a que promovam o caos, assombrem a população, perseguindo comunistas discordantes de suas ideias e, na convulsão social que tomaria conta da agitada Itália dos anos 1920, foi convidado pelo rei Vitor Manuel III para ser Primeiro Ministro, o que lhe valeu como passaporte para sua ascensão política, após conseguir maioria no parlamento italiano. Uma vez tendo o controle absoluto sobre as forças armadas e com honras de um Chefe de Estado, Mussolini consolida seu poder com obras populistas e resolve uma questão crucial entre o Vaticano e o reino da Itália, no que ficou conhecido como Pacto de Latrão, que criou o Estado do Vaticano, independente do resto da Itália, embora esteja no centro de Roma. Por este tratado, firmou-se um acordo pelo qual, além de se criar o Estado do Vaticano, o Sumo Pontífice recebia indenização monetária pelas perdas territoriais, o ensino religioso era obrigatório nas escolas italianas, o catolicismo virava a religião oficial da Itália e se proibia a admissão em cargos públicos dos sacerdotes que abandonassem a batina. A 19 de abril daquele ano foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito de Portugal.

fascismo é uma ideologia nascida a partir do socialismo e é filho do século XX. O nome vem do símbolo do governo de Mussolini, o machado romano chamado fascio, o que vinha a calhar para as ambições de Mussolini, pois seu sonho era o de recriar o império romano dos dias antigos. E, para isso, Il Duce não mediria esforços: esmagaria impiedosamente os opositores, criaria um culto à sua personalidade e eliminaria qualquer pessoa que pudesse prejudicar a sua imagem pessoal, inclusive sua ex-esposa e seu primeiro filho, os quais mandou matar através de espancamento e com uma injeção letal, respectivamente.

Mussolini era um ator. Sua oratória convincente, de gestos extravagantes, marcantes, era permeada de um discurso messiânico, que foi a marca dos piores ditadores que o mundo já viu, os quais curiosamente também estão no século XX, e cuja maioria absoluta foi socialista/comunista (Stálin, Mao, Papa Doc, Ceaucescu, Kin Il Sun, Pol Pot, Fidel Castro). Estima-se que esse líderes revolucionários, populistas, socialistas, mataram juntos quase 60 milhões de pessoas. Mussolini não foi diferente. Sagaz, mas minimalista, visitou a Alemanha pouco antes da Guerra e se convenceu de que o país liderado por Hitler, que admirava há anos o líder fascista italiano, como um ídolo, havia sobrepujado seu próprio país: a máquina militar de Hitler era moderna, ordenada, precisa; o país estava organizado, próspero; e o próprio líder alemão parecia ter uma determinação que a Sociedade das Nações (antiga ONU) não tinha! Pronto! Sem saber, o líder italiano que adorava mostrar narcisisticamente como gostava de si próprio, não sabia, mas selara seu destino com o apoio aos nazistas.

Após severas derrotas nos fronts em que atuou, na 2a. Guerra Mundial, ao lado dos nazistas, Mussolini cedeu às pressões de Hitler para exterminar judeus e, ele próprio, perseguiu e mandou para as câmaras de gás nazistas mais de 30.000 judeus, tornando-se cúmplice do Holocausto. Contudo, ele não foi o único líder de raiz socialista que, a exemplo dos nazistas, eram perseguidores dos judeus. O próprio Stálin, talvez o líder déspota mais cruel das História, antes de morrer mandara preparar quatro gigantescos campos de concentração, na União Soviética, destinados a aprisionarem e matarem sistematicamente os judeus restantes da Europa. Estes só não foram erradicados da URSS por causa da morte de Stálin, e veja que estou me referindo, aqui, há cerca de 8 anos depois da 2a. Guerra! Mussolini , que morre em 1945, estava seguindo os mesmos passos pavimentados por Hitler, que ascendera de um admirador do Il Duce para alguém que estava ditando as regras!

No fim, Mussolini, que havia assassinado milhares de pessoas, além de sua ex-esposa, filho e mandado para a morte milhares de soldados italianos, numa guerra em que só ele queria lutar, não o seu povo, perdeu prestígio, poder e, após ser capturado por guerrilheiros italianos, tentando fugir para a Suíça com uma de suas amantes, é condenado e sumariamente executado em Mezzegra, Itália. Após sua execução, seu corpo, o de sua amante, Clara Petacci, além de outros de seus apoiadores, ficaram expostos, pendurados de cabeça para baixo durante vários dias na Piazza Loreto, em Milão. O seu túmulo, que fica no mausoléu de sua família em Predapio, na região de Emilia-Romanha, é local de peregrinação de jovens que se intitulam fascistas, na atualidade. Apesar de o governo local ter proibido a venda de objetos com quaisquer imagens fascistas, souvenires ainda são vendidos discretamente.

O lembrete que fica como um grave alerta à juventude ocidental, que desconhece a História e teima em sua maioria a valorizar ídolos mentirosos, fracos, corruptos e demagogos, é o de que os fascistas se fazem de esquecidos: suas origens são socialistas, seus ícones amados na política, a exemplo dos déspotas socialistas do século XX, foram e normalmente são seres humanos execráveis, assassinos, psicopatas, que tinham ou têm desprezo pela vida humana e que eram ou são amantes apenas de si mesmos. E o seu “ídolo” máximo italiano foi um homem minimalista, arrogante, e na sua arrogância quase leva a Itália à ruína completa, além da mancha de ter participado do Holocausto. Um preço muito alto para se ter trens chegando no horário.

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